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Um dos principais legados da chamada Operação Lava Jato para o Brasil deverá ser a profunda transformação da cultura corporativa, por meio da adoção e do aprimoramento consistentes de políticas e programas de compliance, expressão que, em inglês, resume um conjunto de virtudes, entre as quais ética, transparência e conformidade com as leis e normas em vigor.

Desde o final de janeiro de 2014, quando entrou em vigor a Lei nº 12.846 – batizada de Lei Anticorrupção –, muitas empresas já enveredaram por esse caminho, mas boa parte de seus programas continua ainda pouco efetivos.

Pesquisas recentes realizadas no Brasil por algumas consultorias e auditorias indicam que mais da metade das organizações de médio e grande portes entrevistadas não possuem qualquer estrutura, política ou programa de ética e compliance formalizados e divulgados aos públicos interno e externo. Entre as restantes, apenas uma reduzida minoria (em torno de 10%) já dispõe de sistemas integrados, funcionais e de elevado desempenho, enquanto as demais tratam de integrar ações ou têm somente uma estrutura mínima de compliance.

A implementação de políticas e práticas de compliance é, de fato, um grande desafio. Envolve um amplo escopo de ações, como a definição dos valores éticos e do código de conduta, a avaliação profunda dos riscos de fraudes em todas as operações da organização, o envolvimento de todas as áreas, a implementação de comitês e de auditorias e a participação da alta administração, ditando a direção, o ritmo e o tom das iniciativas. E envolve, sobretudo, engajamento. Construído por meio de muita comunicação e muito treinamento.

Somente a comunicação dos públicos internos e externos difundindo as mensagens, valores e condutas das organizações podem garantir a efetividade dos programas de compliance e a disseminação de uma cultura de ética e transparência que perpasse o mundo dos negócios e alcance todos os segmentos da sociedade.

De acordo com o estudo “Report to the Nations on Occupational Fraud and Abuse – 2014 Global Fraude Study”, da Association of Certified Fraud Examiners (ACFE) – fundação baseada no Texas (EUA) que é uma das maiores instituições de educação antifraude do mundo –, as denúncias de funcionários são, de longe, o método mais comum e consistente de detecção de práticas de corrupção dentro das empresas. Elas respondem por 51% das descobertas de fraudes nas empresas com canais de denúncias, enquanto as taxas de detecção por meio de auditorias internas e externas ficam em 15,2% e 1,3%, respectivamente.

Outro estudo, denominado “2015 World’s Most Ethical Companies” e realizado pelo Instituto Ethisphere – que tem sede no Arizona (EUA) e se dedica à definição e aprimoramento de padrões de ética nos negócios – indica que, entre 2013 e 2015, passou de 72% para 94% o número das empresas mais éticas que desenvolveu planos de engajamento para articular e disseminar as mensagens de compliance. As formas de engajamento são variadas: de murais e boletins informativos internos a processos de comunicação entre gestores e subordinados, de redes sociais a e-mails de incentivo, de cursos e treinamentos a recursos de Intranet (como blogs e fóruns), passando por publicações internas, e-mails marketing e portais na Internet. Segundo o Ethisphere, 85% das companhias mais éticas têm planos plurianuais de comunicação e treinamento na área de compliance e 100% utilizam métricas para medir a efetividade das ações.

O objetivo da comunicação é tornar os temas relacionados à ética, transparência e conformidade interessante, relevante e usável, a fim de estimular a adesão dos funcionários e de outros públicos. Parece óbvio, mas nem todas as empresas atentam para a necessidade de dispor de um time de indutores capazes de entregar a mensagem certa na linguagem certa para o público certo na hora certa. E, quase sempre, é disso que dependem a saúde do ambiente corporativo e a reputação da organização.

Nessa missão de transformar a cultura brasileira por meio da ética e da transparência, o engajamento das pessoas é fundamental e imprescindível, afinal, por melhor que seja o conteúdo de uma lei, ela só será efetiva com a adesão das pessoas.

Por Fábio Risério

Sócio Fundador da Além das Palavras Negócios Éticos e Sustentáveis

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