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Esses dias ouvi uma história muito interessante sobre um desses empresários que começou do nada e criou um negócio de muito sucesso. Embora exemplos dessa natureza sempre me chamem a atenção, fiquei um tanto mais impressionada pelo questionamento desse empresário ao tratar com um consultor sobre a gestão de sua franquia de chocolates. A pergunta: “Por que tenho que seguir um modelo de negócio só porque a Apple fez, a Sony fez, a Samsung fez, etc.?

O caso veio no contexto de orientação de um dos famosos gurus da administração empresarial, que sugere seguir os [inquestionáveis] bons exemplos do mercado. Simplificando: se fizer a mesma coisa que essas empresas fizeram, e que tiveram sucesso, logo, sua empresa também terá sucesso.

Antes mesmo de ouvir o final do caso, já passei a admirar aquele empresário. Com o andar da história então, fiquei até com vontade de comprar o chocolate da marca. Isso porque o que ele sabia é que tinha chegado aonde chegou vendendo trufas pelas padarias, bares e restaurantes, incansavelmente, atendendo cada cliente com toda a sua atenção. Sem saber o porquê, ainda que seu negócio tivesse crescido, ele não queria perder essa história exemplar, pelo menos para ele. Digamos que também sem saber, ele não queria perder – ou queria recuperar – aquele “q” do seu atendimento aos clientes. E, para ele, isso não se encaixava nos modelos pré-definidos.

Tudo na vida nos orienta a seguir os bons exemplos – certamente, não os maus. Entretanto, minha inquietação quanto a isso não se deve a necessidade de análise de mercado/competidores, definição de estratégia, planejamento, disciplina de execução, e tudo mais o que a boa administração e gestão do marketing envolve, mas ao fato de observar muitas vezes organizações perderem um precioso tempo elogiando o que a concorrência faz e copiando o que a concorrência faz, sem ao menos considerar se aquilo é coerente com o que elas são.

Embora tenhamos, de forma geral, a ideia de que “a grama do vizinho é sempre mais verde”, poucas vezes olhamos os verdadeiros bons exemplos a seguir da concorrência, mas ficamos na “periferia” daquilo que é apenas aparente, como o bloquinho sobre a mesa da sala de reunião, a gramatura do convite usado no evento X (sim, porque a gramatura do papel passa a ser mais importante do que o evento propriamente dito – o que, talvez, valesse uma reflexão), de quantas vezes saiu na imprensa (ainda que sua exposição tenha sido majoritariamente negativa ou irrelevante), para pararmos por aí.

Sua empresa é única, e chegou aonde chegou porque fez algumas (provavelmente, muitas) boas escolhas. Considere sim o benchmarking, mas vale o cuidado para não transformar o seu negócio, a sua marca, em cópia daquilo que não te levará a lugar algum.

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